Sobre o que não escolhi ou não consegui fazer

DAS MINHAS HORAS CRONICAMENTE INQUIETAS

Durante um bom tempo passei sofrendo as consequências pelo que não escolhi ou não consegui fazer. Elas soavam para mim como castigos.

“Não escolheu isso? Agora arque com as consequências!”

“Não fez aquilo? Agora veja no que dá!”

“Não deu conta de fazer? Se permitiu não fazer?

Não se obrigou? Não extrapolou seus limites?

Agora aguenta!!!”

Essas consequências que eu via como castigos me faziam jogar sobre mim mesma um olhar julgador: você está se permitindo ser insuficiente. Quando na verdade eu estava enfim me permitindo fazer o que eu podia ou conseguia fazer naquele momento.

Costumo arcar com o ônus de ser quem desejo e não quem esperam que eu me limite a ser. Venho de uma temporada muito distante de mim, precisando e muito ser eu.

“Prefiro pagar o preço de ser eu do que viver de graça o que não quero ser.”

Ainda prefiro arder em cobranças e desafios, congelar de medo, chorar escolhas que se mostrem futuramente equivocadas do que a inércia de viver em temperatura morna, que nem aquece nem refresca, passa pela nossa boca, desce pela garganta, vai ao nosso interior e não causa sensação alguma. A cada fala quero ser sentida e sentir.

Fiquei pensando se deveria escrever bonitinho rimando, de maneira elegantemente concatenada, mas quando comecei a escrever hoje, não quis parir uma poesia nem encantar pela estética.

Ao mesmo tempo olhei para a página e pensei: não é poética a escrita do caos que nos habita?

É uma escrita livre.

Avança sobre o papel.

Escorrem caóticas minhas reflexões.

E pra mim essa escrita rima.

Rima com minhas inquietações.

Cíntia Colares, a Flor de Lótus, jornalista, ativista e poeta, que anda ensaiando se expressar em crônicas e contos. Instagram: @jornalistacintiacolares

Porto Alegre, 19 de maio de 2025

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Quando já estava fechando a caneta, se abriu essa poesia em mim:

NÃO ME ENCAIXO EM MOLDES

“Cada vez que consigo dar nome

ao que está me inquietando

ou escondido dentro de mim:

É poesia.

É a minha poesia.

Minha poesia não vem para rimar,

não conta sílabas.

Conta minhas entranhas.”

Sou Cintia Colares,

Sou Flor de Lótus 🪷

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