NÃO CONTE COMIGO PARA FAZER DE CONTA
É pra militar, mas como figurante? Entrando muda e saindo calada, balançando a cabeça durante a permanência? É pra fazer somente como as outras pessoas fizerem?
Precisamos falar sobre interseccionalidade de verdade, para além de se teorizar, sentirmos a urgência de colocarmos em prática.
Esse é o objetivo maior: vivenciar a interseccionalidade, não ostentar o título de ser alguém que fala sobre.
É pra militar, mas como figurante? Entrando muda e saindo calada, balançando a cabeça durante a permanência? É pra fazer somente como as outras pessoas fizerem? Nada de propor alguma discussão que não tenham proposto? Falar sobre racismo é fugir do escopo do feminismo? Ué, mas o racismo atinge a mulheres. Mandar muitos episódios de racismo "cansa"? Imagina pra quem está vivendo essas situações desde que nasceu. A nós, sim, cansa e muito. Não que divulguem vídeos suscitando o debate. Cansa que aconteça na vida real, hoje, ontem e saber que amanhã acontecerá também.
Não me permito ser usada como um token, quando a presença de alguém negro serve apenas pra que possam dizer que temos uma pessoa negra aqui, veja...até porque não pega bem não ter...e então usarem isso para simular que a diversidade está acontecendo. Onde eu estiver, escuto aos demais, mas também vou falar e me fazer ouvir!
Nao existe militância na figuração.
Somos todas protagonistas.
Nem que esse protagonismo tenha de vir com muitos embates.
Resistir é um requisito sem o qual sequer existiríamos. Ainda nos querem como criados mudos, ali no ambiente, presenciando as discussões, porém mudos, fazendo apenas o que nos for permitido. Se a proposta for militância tutelada, meu pescoço não recebe coleira, nem cabresto. Não sou conduzida por ninguém.
E como dizia a pensadora negra Audre Lorde: não vou guardar minha raiva para que você fique confortável.
Resistir é um verbo que conjugo diariamente.
✊🏾✊🏾✊🏾
Por Cíntia Colares
Jornalista ( MTB 11082)
Porto Alegre, 28 de abril de 2025