Investimento do governo em favela é bala
A oportunidade que querem dar aos pretos é de morrer de uma vez para ver se param de insistir na vida que sempre lhes foi negada.
A oportunidade que querem dar aos pretos é de morrer de uma vez para ver se param de insistir na vida que sempre lhes foi negada.
“Essa pretalhada inextinguível”, já reclamava Monteiro Lobato, aquele que até hoje é ensinado a nossas crianças na escola. Pacto da branquitude.
Ainda assim, favela sobrevive e acha caminhos para ser vista. Querem que pare de falar que vivem assim ou assado? Mudem a nossa realidade que a gente vai cantar que vive diferente, propôs MC Cabelinho. Querem que eu pare de falar de racismo? Sosseguem seus revolveres contra nós e parem de nós desumanizar cotidianamente, acrescento.
Eles matam alguns de nós, alguns de maneira espetacularizada e outros mais ainda no sigilo,na intenção de matar a todos nós de medo, de depressão, pânico e desesperança. Motivo do nosso óbito cotidiano: dignidade negada pela vida toda.
“Nascemos mortos,
mortos para
esse sistema.”
Cíntia Colares
Pior do que isso, nascemos com vida, alegres, belos, fortes e promissores. Aí o sistema vai nos alvejando em todos espaços que transitamos e vai nos tornando meio zumbis, quando não mata, também não deixa vivo. Nos suga a vitalidade e ainda age para extrair mais um pouco a cada dia de trabalho.
Vagamos por aí batendo o cartão ponto na entrada que tem hora exigida, mas horário de saída nem sempre. E assim levantamos meio anestesiados todos dias, cansados pelo dia anterior, cansados de como será o hoje e as vezes desejando nem ter mais amanhã.
Quantos rezam para partir ou tentam acelerar sua partida porque não sentem suas vidas como suas e não enxergam esperança de viver dignamente. Felizes, tristes, saudáveis, doentes produzimos mais e mais riquezas para eles.
Não te parece que nossa vida é feita para melhorar a deles e a deles para piorar a nossa?
E para você que se diz antirracista, aliado da nossa causa, me responda aí:
❎ Você já pensou além da frase que as pessoas negras recebem menos do que as brancas em qualquer função?
❎ Isso quando chegamos a essa mesma função.
❎ Quantas pessoas negras você cresceu vendo em seus ambientes de trabalho, estudos e lazer?
❎ Você não percebeu?
❎ Percebeu e foi indiferente?
❎ Percebeu e não fez nada?
Então, você também segura essas armas, alveja e dispara todos os dias em nossas cabeças.
Não me diga que você é antirracista ou gostaria muito de ser, mas… Seja e seja pra ontem.
Você está atrasado e reproduzindo um sistema que extermina vidas.
🎯
Quem falará sobre, repercutirá, reivindicará justiça e irá parar agendas corridas para fazer algo? Nós, da pele preta. Pessoas brancas seguirão ocupadas para pensar nisso.
A vida está muito corrida…queria agir, mas a minha agenda…pessoas brancas nos dizem. E as pessoas brancas estão correndo mesmo.
Estão correndo tanto, correndo, nadando, mergulhados em seus privilégios, correndo tanto que pisoteiam em cima de nós e quando se dignam a ouvir algum grito nosso de dor, respondem que não perceberam, não foram ensinados a perceber, não sabem como lidar conosco, o que esperamos afinal que eles façam?
Nos perguntam incomodados com o que chamam de cobranças imediatistas nossas de atenção. Como se a pauta racial não estivesse mais do que atrasada para ser discutida e não fosse urgente. Tópico número um da lista:
“Parem de matar nossos
corpos e, antes disso,
parem de matar a dignidade
de nossas existências
Cíntia Colares
Antes de qualquer formação, meu olhar passa pelas questões que atravessam cotidianamente uma mulher preta cis, mãe solo de um adolescente negro e moradora da periferia de Porto Alegre no Rio Grande do Sul.
Hoje é 8 de junho de 2025, mas poderia ser em 1888, 1700, 1600 ou os idos de 1500.
O que mudou foram as estratégias que as opressões encontram para seguir algemando pessoas negras em posições de subalternidade e com qual arma vão nos caçar, alvejar e nos matar sem cerimônia e com visível deleite.”
CÍNTIA COLARES, a Flor de Lótus 🪷, é uma mulher preta cis, jornalista, poeta, ativista, mãe solo de um adolescente negro. Ultimamente anda expressando suas inquietações também na forma de crônicas e contos.
O projeto colonial escravista que se mantém até hoje de diversas maneiras, travestido pelas mudanças do capitalismo liberal, fez do Brasil o mais desigual país do mundo, em todos os sentidos. Esse projeto espoliativo estruturado no racismo branco, contra pretos, indígenas e pobres tem tido várias artimanhas de permanecer. O pensamento positivista que engendra a eugenia brasileira, não só, tem lugar na elite rica e poderosa da nação e se esparrama para as classes médias brancas mais favorecidas. Conhecemos bem as tentativas de branqueamento social dessas pessoas do poder, que invadem as universidades e as escolas em geral, atravessam o ambiente do trabalho e lá vai.
As morte como a do menino Herus deste fim de semana exemplifica claramente o genocídio histórico das populações indígenas e pretas, mortandade explícita e covarde, já dada como praxe policialesca e violenta, da parte do Estado, nunca republicano.
Essa eugenia ficará ainda pior dado que a sociabilidade se modifica com esses liberalismo consumistas do século XXI, notadamente com os controles comunicacionais, informacionais e digitais de nosso tempo. Os novos modelos de convivência que serão permitidos certamente excluirão aquelas e aqueles que não puderem comprar os produtos das plataformas.
A mudança é necessária e urgente! A luta deve continuar, cada qual com sua espada.
Escrita tão potente e verdadeira 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻