Quando Manel de Xangô chegou, Maria dos Prazeres estava aberta na sala o esperando lânguida fazendo uma asana para lá de provocante. Se é que se podia chamar de uma asana, como são chamadas as posições de Yoga, aquela provocação como ela se posicionou bem de frente para a porta para que ele fosse surpreendido e arrebatado já de chegada quando entrasse em casa.
Vamos assumir Maria dos Prazeres estava querendo lhe provocar quando fazia aquele ar desavisado e dizia:
— Hummmm, você chegou, meu Xangô…estava tão distraída aqui…não vi…
Manel de Xangô via o desejo no olhar de Prazeres, mas entrava no jogo e respondia como quem acreditava que a posição sedutora, a fala lânguida, o jogo de palavras que viria…que nada disso era pensado para lhe atiçar os sentidos.
— Cheguei faz pouco, meu Prazer.
Dizia ele, depois de ter passado, na verdade, alguns minutos observando em silêncio e gozo a recepção que ganhava ao chegar em casa depois de um dia exaustivo de trabalho prestando todo tipo de serviços quebra-galho na Universidade.
O dia de hoje particularmente havia lhe sugado ainda mais as energias. E pressentia que continuaria sendo sugado:
— Mas ser sugado em casa é outra coisa, pensou Manel de Xangô, enquanto lhe escapava um sorriso.
Prazeres sorriu de volta e estendeu os braços em sua direção.
— Vem, Manel, vem aqui perto de mim, vem.
Manel foi como quem vai hipnotizado, sorrindo e já se sentindo sendo satisfeito por ser recebido de forma tão quente e afetuosa em casa.
Prazeres miou:
— Manel, pega aqui…
Disse Prazeres apontando suas coxas.
— Me ajuda a conseguir chegar lá…na posição aquela que você gosta…
Assim que Manel de Xangô tocou suas coxas, Prazeres soltou um gemido, abriu mais ainda as pernas e sorriu para ele maliciosamente.
Assim você me arrepia, gostoso…
— Prazeres você está com febre, não é, meu prazer?
— Você precisa medir minha temperatura para saber. Vem me sentir…
Quando conseguiram voltar a falar mais do que gemidos, não foi com palavras. Foi com uma troca de olhares que convidava ao aconchego.
Manel se aninhou no meio das coxas de Prazeres, mas dessa vez para repousar, enlaçando-lhe e a segurando pelos quadris.
Prazeres lhe observava satisfeita, enquanto afagava-lhe os cabelos.
Essa conversa durou até adormecerem. Acordaram conversando em abraços.
— Prazeres…como vou sair da cama assim? Suspirava Manel ainda com o corpo colado ao dela sem se movimentar para sair daquele abraço que o convidava a ficar o dia naquela cama, no sofá, na cozinha, no chuveiro. Ou no mínimo, se atrasar para o trabalho.
A tentação era grande. O convite das coxas de Prazeres acabava sempre lhe arrebatando.
Prazeres, como quem lê seus pensamentos, diz: faz comigo…faz…
Quando Manel conseguiu chegar na Universidade, não havia dado tempo de se alimentar. Não de comida, eu digo. Manel de Xangô trabalhou o dia inteiro com o estômago roncando, pois até de sua marmita esqueceu na pressa de correr pro trabalho.
Entrou na sala de música, pois fizeram um chamado urgente de lá.
— Mané, você sabe consertar isso? Precisamos que você resolva!
Manel pensou que problema é esse que me jogaram agora! Olhou, olhou e aplicou uma técnica que nem ele sabe explicar como intuiu. Apenas olhou e pensou que a solução seria aquela. E solucionou. Antes de sair, lhe ofereceram um sanduíche.
Kaô, meu pai!
Exclamou ele por dentro enquanto apenas assentia com a cabeça que sim, aceitava.
Já ia saindo quando lhe convidaram para assistir ao ensaio.
A música foi saindo dos instrumentos e a desafinação entrando nos ouvidos de Manel, o Mané para eles.
— O baixo está fora do tom!
Todos se entreolharam.
— Como esse mané ousa? Todos fizeram cara de quem estava pensando assim.
A baixista sorriu um sorriso amarelo e começou de novo, dessa vez no tom.
Orquestra erudita tocando, quando os acadêmicos estudiosos de música ouviram mais alto e incisivo ainda:
— Pára, pára tudo! Alguém está desafinando!
De olhos fechados e ouvidos muito abertos, Manel de Xangô botou ordem e afinação na orquestra dos acadêmicos. Quando botou a orquestra no tom, saiu abriu os olhos, saiu andando e cantarolando um tal de Pixinguinha que sua mãe sempre cantarolava para ele.
Correu pra casa novamente. E quando abriu a porta ouviu:
É você meu faz tudo? Então fazzzzz…tuuudo…comigo…
Prazeres esticava a pronúncia das palavras naquele tom libidinoso que vai acendendo Manel de Xangô.
Manel de Xangô é realmente um faz tudo. Pau pra toda obra... No trabalho e em casa…o que lhe pedem para resolver, ele resolve até de olhos fechados.
Resolve na técnica, na gambiarra e nos jogos de amor de improviso que Maria dos Prazeres lhe recebe e lhe envolve em casa todos os dias assim que ele chega. Aliás, de olhos fechados é quando ele mais escuta, enxerga, escuta e fala com Prazeres.
O dialeto que eles usam?
Olhares e gemidos.
Não sei o que mais grita:
Os olhares libidinosos que trocam ou os seus gemidos incontroláveis que avisam a vizinhança:
O faz tudo chegou... Chegou em Prazeres.
Cintia Colares, a Flor de Lótus, em 5 de junho de 2025.
Sonhei que um amigo músico desfronteirava regiões e casara com seu benzinho louca de amor. Reconheci que Mané ia já longe nos aconchegos de eros e fazia de tudo um pouco, entendia de tudo, só por Prazer.