CÍNTIA MORDIDA: Aos visitantes distraídos

Você consegue entender como eles chegam assim do nada...agindo como se existissem há séculos na sua vida e tivessem a maior intimidade com você?

Moço, para entrar em meu corpo

Antes é preciso entrar

em meus pensamentos

Me fazer sorrir sem perceber

Provocar aquela sensação

de bem estar ao chegar perto

ou só de pensar nesse alguém

Visitantes batem a minha porta

Mas não querem me entregar algo

Não querem sequer se mexer

Aparecem e não falam o que querem

Pois esperam que sua aparição

baste para causar frisson

e que eu tome as demais iniciativas

ou…se falam algo, é sobre partes de mim

e ainda pensam que vou achar divertido ouvir

Assim?

Sem ter a menor intimidade ou cuidado?

Visitantes distraídos

Aparecem querendo me consumir

Como se eu fosse um pedaço

útil ao seu prazer

Meu corpo

Minha casa

Só visita

Quem se mostra lá de fora

E demonstra que vale à pena

abrir a porta

Aí, sim me abro e chamo:

Vem...entra...

Mas esse tom que você escolhe comigo

e provavelmente usa em série,

desafinou a melodia que

até poderíamos ter dançado

se você soubesse e tivesse escolhido escutar,

cantar e dançar noutro ritmo.

Esse seu tom desafinado

não faz meu corpo querer se mexer

nem para dançar por uma noite apenas.

Não me provoca curiosidade

Provoca enjôo.

Aos visitantes distraídos que buscam

apenas uma refeição por um pernoite:

Meu corpo não está em um cardápio

para você escolher qual parte vai saborear.

Sou Cíntia Colares

Sou Flor de Lótus 🪷

Porto Alegre, 03 de maio de 2025