A BALA MIRA EM NOSSOS FILHOS E MATA A GENTE

Inscreva seu e-mail para receber as próximas publicações

Quando virei uma mãe negra

passei a viver assombrada pelo medo

Filho, está levando seu documento?

Você precisa provar quem é:

que você é estudante

e não o que eles esperam que você seja!

Não saia vestido desse jeito!

Não faça isso!

Não se mexa desse jeito!

Não abra a mochila no

supermercado ou em lojas!

Não mexa no bolso!

Fuja de ser o alvo que eles

querem culpar por exterminar

Para alguns de nossos filhos

Mesmo ouvindo toda essa

cartilha tão cruel

desde muito cedo

ainda crianças

ainda assim não dá tempo

de muitos filhos pretos sobreviverem

Para a bala nos achar,

basta a gente existir.

A gente pode até estar bem

vestido, com a tal boa aparência,

fantasiado, bonito à beça

festejando

e até rezando de mãos dadas

minutos antes da polícia chegar

Enquanto alguém lá de cima

parece não olhar por nós

A polícia nos enxerga de longe

Mas as suas balas não ouvem

nossas orações

Tampouco nos protegem

As balas perdidas não pensam

nas famílias e amigos que vão

chorar para sempre essas ausências

A polícia precisa se divertir

Às custas da opressão e choro da favela

O governo ri junto

escondido em seus gabinetes

Calado, protegido

e eleito por nós

O que falta fazerem ainda mais conosco para

retirarmos o poder das mãos de quem trama

desde os primórdios nos matar ou encarcerar?

Que a senzala faça barulho até ensurdecer a casa

grande.

Que avance tão forte que os soldados sequer

consigam tempo de recarregar sua mira

Que quem nos oprime e nos mata

fique a nossa mercê assim como

eles nos mantém refém deles até hoje.

Quando esse dia chegar,

não seremos nós que iremos chorar.

🪷

Cíntia Colares, a Flor de Lótus 🪷

Porto Alegre, 8 de junho de 2025